Susana Travassos é mais uma cantora algarvia a impor-se além-fronteiras, designadamente no Brasil, onde sua voz e presença em palco têm feito furor e cativado compositores do país irmão. Depois de no albúm de estreia prestar um tributo a Elis Regina, a jovem de Vila Real de Santo António está a gravar um segundo disco acompanhada por um pianista e na forja está mais um trabalho de originais. Que deverão ver a luz do dia nos primeiros meses de 2010. Aproveitando uma vinda da psicóloga de formação ao Algarve, ficamos a conhecer um pouco mais do percurso de Susana Travassos das suas ambições, numa conversa informal na praia de Monte Gordo.
Os primeiros contactos de Susana Travassos com a música dão-se logo aos cinco anos, com o acordeão, depois de ter visto uma rapariga a tocar aquele instrumento num concerto. Foi um clique imediato, de tal modo que fez saber essa vontade à avó e, dito e feito, teve direito ao desejado acordeão. “Estudei quatro anos mas percebi que não era bem aquilo que me enchia as medidas, por isso, passei para o piano e tive aulas particulares, em Vila Real de Santo António, por mais cinco anos. Ao mesmo tempo cantava, mas às escondidas, não me arriscava a fazê-lo em público, por vergonha”, admite a entrevistada, depois de uma sessão fotográfica na praia de Monte Gordo. Decidida a ver se tinha valor para enveredar por uma carreira de música, Susana Travassos vai fazer um exame de admissão ao Conservatório de Faro, para piano, mas não fica satisfeita com a professora e com o conteúdo das aulas. “No entanto, eu queria mesmo prosseguir a formação nesta área, por isso, fui para o canto”, indica, já com algumas actuações de escola no currículo mas ainda sem um projecto definido, de tal modo que, aos 18 anos, vai para Lisboa tirar Psicologia. | |||
Quebrada a barreira da auto-confiança, a música depressa se tornou um assunto sério e o apoio da família foi total. “O meu pai pedia-me insistentemente para finalizar o curso para poder ir cantar à vontade, porque acreditam que eu posso ter algum futuro e viver desta actividade, mesmo sabendo que é um meio difícil de singrar. Mas é onde me sinto feliz”, admite, de olhos brilhantes, lembrando a sua viagem ao Brasil. “Fui actuar com uma banda bem conhecida de São Paulo, num evento inserido nos festejos dos 455 anos da cidade e onde se pretendia apresentar cantores de nacionalidades que tivessem influenciado o sotaque paulista”, esclarece Susana Travassos, acrescentando que o álbum de tributo a Elis Regina foi editado a 31 de Julho de 2008. “Foi uma inspiração desde nova, aprendi bastante com ela e quis agradecer-lhe com esta homenagem. É uma das minhas grandes referências como intérprete em cima do palco”, justifica. | |||
A edição de autor deste primeiro álbum contou com a colaboração de outros artistas, desde Rob Curto e Alfonso Almiñana, respectivamente o acordeonista e técnico de som de Lilla Downs, a Ricardo Gouveia, guitarrista e compositor de Lisboa. “Foi um conjunto de pessoas que acreditavam no meu trabalho e aceitaram entrar nessa aventura, mas não houve uma estrutura oficial com produtor musical e editora”, indica, ao que se seguiu uma tournée, com especial incidência no Algarve, entre os quais espectáculos no Teatro das Figuras, em Faro, no Festival MED, em Loulé, e mais actuações em Vila Real de Santo António e Portimão. “Para mim, a parte mais complicada é interagir com o público, porque cantar é uma coisa natural, sinto-me super à vontade nesse aspecto”, confessa. O público quer coisas diferentes O Brasil é conhecido por ser um país que aposta nas artes, especialmente nos músicos de qualidade, e a experiência de Susana Travassos do outro lado do Oceano Atlântico acabou por ser fulcral em início de carreira. Aliás, do convite para um espectáculo passou-se para uma estadia de cinco meses, pois foi desafiada por diversos grupos para participar em mais concertos e na gravação de discos. “Foi uma caminhada gradual que me cativava uma atenção crescente e, agora, desde que acordo até que vou dormir, o meu trabalho é a música”, reconhece, satisfeita, continuando com o relato da experiência no Brasil. “Conheci o pianista Luís Filipe Gama e houve logo uma forte empatia entre os dois, mostrou-se as suas composições, que inseri nas minhas actuações e comecei a afastar-me um pouco do projecto de homenagem à Elis Regina e a apresentar outra faceta. Chamei um contrabaixista que tinha encontrado nas Minas Gerais e o meu baterista daqui, o Marcelo Araújo, e formamos um quarteto para criar um espectáculo diferente, que funcionou bastante bem”. Após uma vinda ao Algarve, Susana Travassos regressa ao Brasil, a parceria com Luís Filipe Gomes intensifica-se e concretiza-se a ideia de gravar um «cd» de voz e piano, que deverá ser lançado em Janeiro de 2010, numa gestão de tempo que não é pêra doce. “É uma vida instável, sempre a viajar de um lado para o outro, mas a vertente artística vai ficando mais rica e também estou numa fase em que isto ainda é possível, porque não tenho filhos”, admite, garantindo não ter razões de queixa da receptividade dos algarvios à sua sonoridade. Outro projecto que subirá brevemente a palco prende-se com uma homenagem a Heitor Vila Lobos, nas comemorações do seu falecimento, no Teatro Municipal de Portimão, com uma dupla de guitarristas. Depois, é tempo de rumar a Lisboa, para participar no Onda Jazz, com Luís Filipe Gama. “Espero que os bons teatros nos abram as portas, mas sente-se uma barreira no resto do país”, lamenta a cantora. Inserida no contexto da world music, Susana considera que este rótulo é uma faca de dois gumes, com vantagens e desvantagens. “É uma marca cada vez mais abrangente e há espaço para muitos festivais, mas continua a ser uma música mais alternativa, não é o comercial puro que passa facilmente na rádio. De qualquer modo, é um conceito que deixa as pessoas curiosas, por não ser limitado e não se restringir a um só género sonoro”, defende a entrevistada, frisando que o seu segundo disco a solo será, de facto, assumidamente de world music. “Vou editar as minhas primeiras composições, numa onda lusófona onde as minhas raízes estão bem assentes e relacionam-se bastante com o Algarve e o mar. Vai chamar-se «Janela Lusa», será na mesma linha de fusão do álbum de estreia e terá traços portugueses, brasileiros e cabo-verdianos. As músicas já estão feitas, resta a pré-produção e os arranjos e julgo que estarei pronta para entrar em estúdio para gravar no arranque de 2010”. Contactos com editoras e distribuidoras existem e Susana Travassos nota que há uma aposta em novos produtos, porque o público também deseja coisas diferentes, depois da fase da música pimba e das boys-band e girls-band. “Os portugueses estão mais exigentes e basta ver as bandas que têm surgido recentemente. Os jovens já gostam do que é nacional”, afirma. No que toca à promoção dos trabalhos discográficos, a opinião da entrevistada é mais comedida, embora admita que ir à televisão não é um obstáculo. “Pode-se ir aos programas da manhã e da tarde dos vários canais, mas não existem nenhuns especializados em cultura, em arte ou música”, desabafa a algarvia de 27 anos, para quem a Psicologia está definitivamente remetida para o passado. “Estou de corpo e alma na música e 2010 vai ser um ano chave, com o lançamento do disco com o pianista Luís Filipa Gama e do meu projecto a solo. Espero que tudo continue no bom caminho”, diz, de sorriso nos lábios e o sol a banhar-lhe o rosto. Terminada a conversa, era tempo de desfrutar do fim-de-semana com a família, em Vila Real de Santo António, porque segunda-feira iniciava-se mais uma maratona entre Portugal e o Brasil. |
A voz que atravessa oceanos e cordilheiras.Em cheio alvejou meu coração e do Brasil também.
ResponderEliminarA tua alma e o que dela sai também alvejou o meu! Obrigada amigo. Saudades de ti!
ResponderEliminarBeijos